Incluir seus herdeiros no planejamento não é apenas uma atitude prática — é uma das formas mais eficazes de proteger seu legado e garantir que entes queridos tenham a clareza necessária quando a hora chegar
Muitos aposentados evitam conversar com seus filhos adultos sobre seus planos financeiros, herança e preferências em relação a cuidados de saúde. Talvez pareça um assunto muito íntimo ou exista o receio de que isso gere conflitos. Porém, mantê-los no escuro resulta em um estresse muito maior — para todos.
Planejadores financeiros veem os dois lados: as famílias que tiraram um tempo para conversar — oferecendo estabilidade em um período de luto — e as que não o fizeram — deixando seus filhos diante de incertezas, conflitos e erros evitáveis.
Incluir seus herdeiros no planejamento não é apenas uma atitude prática — é uma das formas mais eficazes de proteger seu legado e garantir que entes queridos tenham a clareza necessária quando a hora chegar. Essa organização financeira evita surpresas, fortalece os laços familiares e melhora os resultados fiscais.
Para Warren Buffett, revisar o testamento com seus filhos antes de assiná-lo é uma das melhores maneiras de garantir que seus desejos sejam compreendidos e respeitados.
Enfrente as situações
Adicionar seus filhos nos planos financeiros torna-se importante quando envolve situações mais complexas ou emocionalmente delicadas. A comunicação antecipada permite que seu consultor financeiro ou advogado elabore um planejamento que reflita seus objetivos, evite consequências indesejadas e prepare sua família para o sucesso — e não para a confusão.
Por isso, a Forbes listou alguns cenários em que mal-entendidos — ou o timing inadequado — podem resultar em impostos desnecessários, oportunidades perdidas ou até rupturas nos relacionamentos.
Fundos fiduciários familiares:
Se um trust for responsável pela administração dos seus bens, seus filhos precisam saber quem são os curadores, como funcionam as distribuições e quais são suas responsabilidades ou limitações. Incluir os herdeiros evita confusões e constrói um senso de responsabilidade entre as gerações.
Imóveis com valor sentimental:
Seja a casa de veraneio da família ou o imóvel onde seus filhos foram criados, os bens imóveis frequentemente carregam valor emocional. Conversar sobre a intenção de manter, vender ou alugar o imóvel — e como isso funcionaria na prática — pode evitar ressentimentos ou decisões precipitadas.
Planejamento de sucessão empresarial:
Se você possui uma empresa, discutir se os filhos participam, querem participar ou herdarão uma parte dela é fundamental. Ignorar essa conversa pode gerar divisão societária, disputas legais ou vendas forçadas. Envolvê-los agora permite alinhar expectativas e sucessores enquanto você ainda está ativo para orientar o processo.
Famílias reconstituídas:
Quando há enteados, segundos casamentos ou parentes afastados, questões mal resolvidas podem se transformar em grandes problemas. Esclarecer suas intenções e comunicá-las de forma transparente reduz o risco de conflitos — e de ações judiciais.
Cuidados de longo prazo:
Questões de saúde costumam surgir sem aviso. Compartilhar seus desejos e preferências de cuidados oferece aos filhos a confiança necessária para agir rapidamente. Um estudo publicado pelo BMJ conclui que “o planejamento prévio de cuidados melhora o atendimento no fim da vida, a satisfação do paciente e da família, e reduz o estresse, a ansiedade e a depressão entre os parentes.”
Como iniciar a conversa?
Para uma conversa mais tranquila, prepare-se primeiro. É preciso revisar e atualizar seus documentos principais — testamentos, trusts, procurações — e organizar informações de contas, contatos de consultores e dados de acesso. Fazer isso antes da conversa ajuda você a se sentir mais seguro e preparado ao falar com seus filhos.
Outra estratégia é escolher o momento certo. Prefira um período calmo, com pouco estresse — idealmente quando todos estiverem tranquilos e receptivos. Não precisa ser um grande evento. Uma visita tranquila, um almoço de domingo ou uma ligação funciona melhor. O objetivo é criar um espaço para uma conversa, sem interrupções e sem o peso de uma celebração ou crise.
Também divida em sessões. Por exemplo, se possível, distribua a conversa em algumas discussões focadas — uma sobre desejos em relação ao legado, outra sobre preferências de cuidados de saúde, e uma sobre aspectos financeiros. Isso ajuda a reduzir a sobrecarga e melhora a compreensão.
Mas se seus filhos moram longe ou o tempo juntos for limitado, uma conversa bem pensada com todos presentes ainda pode fazer muita diferença. Apenas esteja atento ao clima — se as emoções estiverem intensas ou o momento parecer inadequado, tudo bem pausar e retomar depois. O mais importante é agir com intenção — seja em uma única conversa ou em várias.
Mais uma dica é apresentá-los ao seu consultor. Isso cria confiança e familiaridade, além de dar à eles a oportunidade de tirar dúvidas, entender seus objetivos e se conectar com uma fonte confiável à medida que iniciam seu próprio planejamento.
Quando já existe uma boa relação entre seus filhos e seu consultor, qualquer transição futura — especialmente após seu falecimento — torna-se muito mais confortável. Eles estarão lidando com alguém conhecido e de confiança, e não com um estranho, em um momento difícil.
Seu consultor ficará feliz em ajudar a próxima geração, esteja ela começando, economizando para comprar um imóvel ou construindo patrimônio. É uma forma de transmitir uma relação de confiança e garantir uma transição mais tranquila quando houver mudanças na vida.
Por último, mas não menos importante, seja claro e específico. Informe onde estão armazenados os documentos importantes, quais são seus desejos e quem será responsável por cada parte. Isso reduz incertezas e garante que todos estejam alinhados. Também estabeleça limites e expectativas. Seja qual for seu plano em relação a apoio financeiro, deixe isso claro, ajudando a evitar confusão, ressentimentos ou expectativas irreais — especialmente em momentos de estresse.
Fonte: FORBES